quinta-feira, setembro 07, 2006

"Projeto da Rural de Pernambuco capacita assentados da reforma agrária para a produção sustentável de biodiesel"

"Tudo começou com a elaboração do Plano de Desenvolvimento do Assentamento Libertação (município de Itaíba, semi-árido pernambucano) pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Seu diagnóstico, aliado a outras variáveis, permitiram a pesquisadores da Universidade constatarem que o plantio da mamona, para produção de biodiesel, seria uma atividade viável para os moradores locais.
Esse foi o pontapé inicial para o Grupo de Pesquisa Reforma Agrária e Desenvolvimento Sustentável (Grades) formular o Projeto de Extensão 'Reforma Agrária e Biodiesel: a busca da sustentabilidade em assentamentos do sertão pernambucano'.
O piloto foi realizado no próprio assentamento Libertação, tendo início em 2005. Hoje já está sendo expandido com sucesso para mais cinco assentamentos: Barra Verde, Santa Luzia e Serra dos Cavalos, em Itaíba, e Cristo-Rei e Barra Nova, no município de Águas Belas.
A meta do grupo de pesquisa é levar o projeto a 29 assentamentos da região, alcançando 1.463 famílias. 'Uma confluência de fatores tornou nossa proposta possível. O potencial do solo para o plantio da mamona, ao lado do perfil da população assentada, juntamente com as ações do governo de incentivo ao Programa Nacional do Biodiesel', destaca Ana Maria Navaes, da UFRPE, uma das coordenadoras da iniciativa.
O projeto Reforma Agrária e Biodiesel possibilitou a capacitação de técnicos em extensão rural e também dos agricultores do assentamento Libertação, para o domínio da técnica de produção da mamona. Durante a capacitação, os agricultores também conheceram o projeto Brasil Ecodiesel, no Piauí (a Fazenda Santa Clara, em Buriti, e a Usina, em Floriano).
O projeto da UFRPE participou do Edital CT-Agro 2004, recomendado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Terminadas as atividades do projeto Reforma Agrária e Biodiesel, foi formado um grupo de 50 agricultores para a produção comercial da mamona em área de 150 hectares, correspondente a 3 hectares por família participante. A expectativa de produtividade é de 1.000 quilos/ha, com produção total de 150 mil quilos de baga (a semente), com preço mínimo garantido de R$ 0,55 por quilo, destinados a produção de 60 mil litros de biodiesel, mantendo-se o rendimento de 2,5quilos/litro, segundo as pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, uma das colaboradoras do projeto.
Da matéria-prima ao biodiesel
De acordo com Ana Navaes, antes do projeto, os agricultores cultivavam alimentos para a subsistência e apenas alguns para comercialização, em pequena quantidade. A mamona surgiu como alternativa de renda e deu impulso às atividades dos assentamentos. 'O plantio da mamona pode ser feito com recursos do próprio agricultor familiar, já que conta com adubação orgânica e tração animal. Assim, eles têm renda garantida pelo ano todo, é mais uma oportunidade', anima-se.
A idéia inicial era vender toda a produção de mamona dos assentamentos para a Brasil Ecodiesel. Mas uma novidade melhorou ainda mais as perspectivas dos agricultores e das agricultoras da região: o anúncio da implantação, em Pernambuco, pelo Centro de Tecnologias Estratégias do Nordeste (Cetene), de três usinas públicas de biodiesel, Caetés, Pesqueira e Serra Talhada.
A usina de Caetés já está pronta e na fase de testes, com previsão para início de funcionamento em setembro desse ano. 'Os agricultores poderão participar da gestão da usina e, ao invés de fornecerem apenas a matéria-prima, terão o produto final, o biodiesel. Assim, poderemos gerar a verdadeira inclusão social', analisa Ana Navaes. Segundo ela, os produtores já estão participando das negociações da usina de Caetés e terão participação no lucro com a venda da produção de biodiesel.
Para continuar, no entanto, atingindo a meta dos 29 assentamentos, o projeto necessita de mais recursos, que estão sendo buscados pelo grupo de pesquisa. Hilda de Melo Correia, agricultora do assentamento de Santa Luzia, que tem, ao lado das culturas de feijão e milho, dois hectares plantados com mamona, já comemora. 'Minha plantação está carregada de ponta a ponta. É a primeira vez que plantamos, mas acho que vai dar uma safra boa', diz. Em 30 dias Hilda irá poder conferir o resultado. [...]"
Fonte: NEAD.

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