"Um sector inusitado acaba de juntar-se ao grupo de empresas que em Portugal estão certificadas ambientalmente: o das agências funerárias. A maior firma a operar no país, a Servilusa - de capitais espanhóis e com uma rede de 45 agências -, obteve recentemente a certificação com a norma internacional ISO14001, que obriga a um apertado controlo sobre tudo o que, numa determinada actividade, possa ter impacto sobre o ambiente.
E em matéria de ambiente a morte não está livre de responsabilidades. Pelo contrário, mesmo na derradeira despedida, o ser humano deixa uma factura ambiental. A Servilusa tem uma frota de 100 viaturas, que é preciso lavar todos os dias. Só aí são gastos, mensalmente, cerca de 135 litros de produtos químicos - como champô, espuma e limpa-vidros - que depois são escoados, com a água, para o ambiente.
Esta poluição foi um dos principais problemas encontrados na avaliação de todas as actividades da companhia. A lista é longa e inclui aspectos comuns a empresas de qualquer ramo: consumo de água e luz, produção de lixo, material de escritório, poluição dos automóveis.
O ponto mais sensível é, no entanto, próprio do sector. Como preparar uma sepultura sem que isso implique poluição a médio e longo prazo? Uma urna envolve por exemplo vernizes, metais, plásticos e tecidos sintéticos; e é tudo enterrado no solo. 'Isto causa um grande problema ambiental', afirma Paulo Carreira, director comercial da Servilusa.
Segundo Paulo Carreira, os materiais normalmente utilizados conspiram contra o trabalho da natureza. Urnas com tratamentos que as preservam por muito tempo atrasam a deterioração dos corpos. Alguns compostos de madeira desmancham-se e formam uma pasta que também tem o mesmo efeito. 'Todos os cemitérios têm problemas de decomposição dos corpos', diz.
A solução seria um caixão ecológico, com materiais biodegradáveis e sem substâncias poluentes. Esta ideia já tem sido adoptada nalguns países. No Reino Unido, várias empresas oferecem serviços de 'funerais verdes'. A Green Funeral Company, da Cornualha, efectua funerais no campo, onde o corpo é sepultado em urnas feitas de bambu ou cartão, facilmente degradáveis.
A Compakta, de Leicester, que também tem uma linha de caixões ecológicos, adopta um slogan sugestivo: 'A salvar o ambiente, mesmo na morte.' Em Hong Kong, as autoridades de saúde anunciaram recentemente que querem adoptar urnas de cartão nas cremações, de modo a reduzir em mais de metade o tempo de cada operação.
'E a roupa do falecido?'
Em Portugal, urnas menos poluentes são já utilizadas nas cremações. Para as sepulturas, a Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL) não considera que um caixão ecológico seja suficiente para resolver todos os problemas. 'E a roupa do falecido?', questiona Nuno Monteiro, presidente da ANEL, sugerindo que, primeiro, as câmaras municipais deveriam criar limitações sobre o que pode ir dentro do caixão, com o corpo.
A Servilusa quis seguir o seu próprio caminho e desafiou os fabricantes a fazer urnas ecológicas, em tudo semelhantes às que sempre foram utilizadas nas sepulturas.
O primeiro problema, segundo Paulo Carreira, foi eliminar os pregos e substituí-los por uma cola natural, à base de água e farinha. A seguir, era preciso encontrar um verniz não poluente, também à base de água, que desse o mesmo brilho de um produto sintético. Foi necessário um mês de testes para obter o resultado desejado.
As alças de metal, por onde se seguram os caixões, foram outro obstáculo a ultrapassar. A solução encontrada foram pegas amovíveis, que facilmente são retiradas antes de a urna descer à terra.
Para cremações, que representam cerca de quatro por cento dos 105 mil funerais realizados por ano em Portugal, foram adoptadas urnas biodegradáveis para as cinzas, a partir de modelos que já são comercializados em Espanha.
Também de Espanha veio uma urna para cinzas, feita em cartão reciclado, que traz terra e sementes de pinheiro. Esta inegavelmente pode ostentar um título verde: no local onde for enterrada, nasce uma árvore" (Ricardo Garcia - Público, 09/12/2006)
E em matéria de ambiente a morte não está livre de responsabilidades. Pelo contrário, mesmo na derradeira despedida, o ser humano deixa uma factura ambiental. A Servilusa tem uma frota de 100 viaturas, que é preciso lavar todos os dias. Só aí são gastos, mensalmente, cerca de 135 litros de produtos químicos - como champô, espuma e limpa-vidros - que depois são escoados, com a água, para o ambiente.
Esta poluição foi um dos principais problemas encontrados na avaliação de todas as actividades da companhia. A lista é longa e inclui aspectos comuns a empresas de qualquer ramo: consumo de água e luz, produção de lixo, material de escritório, poluição dos automóveis.
O ponto mais sensível é, no entanto, próprio do sector. Como preparar uma sepultura sem que isso implique poluição a médio e longo prazo? Uma urna envolve por exemplo vernizes, metais, plásticos e tecidos sintéticos; e é tudo enterrado no solo. 'Isto causa um grande problema ambiental', afirma Paulo Carreira, director comercial da Servilusa.
Segundo Paulo Carreira, os materiais normalmente utilizados conspiram contra o trabalho da natureza. Urnas com tratamentos que as preservam por muito tempo atrasam a deterioração dos corpos. Alguns compostos de madeira desmancham-se e formam uma pasta que também tem o mesmo efeito. 'Todos os cemitérios têm problemas de decomposição dos corpos', diz.
A solução seria um caixão ecológico, com materiais biodegradáveis e sem substâncias poluentes. Esta ideia já tem sido adoptada nalguns países. No Reino Unido, várias empresas oferecem serviços de 'funerais verdes'. A Green Funeral Company, da Cornualha, efectua funerais no campo, onde o corpo é sepultado em urnas feitas de bambu ou cartão, facilmente degradáveis.
A Compakta, de Leicester, que também tem uma linha de caixões ecológicos, adopta um slogan sugestivo: 'A salvar o ambiente, mesmo na morte.' Em Hong Kong, as autoridades de saúde anunciaram recentemente que querem adoptar urnas de cartão nas cremações, de modo a reduzir em mais de metade o tempo de cada operação.
'E a roupa do falecido?'
Em Portugal, urnas menos poluentes são já utilizadas nas cremações. Para as sepulturas, a Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL) não considera que um caixão ecológico seja suficiente para resolver todos os problemas. 'E a roupa do falecido?', questiona Nuno Monteiro, presidente da ANEL, sugerindo que, primeiro, as câmaras municipais deveriam criar limitações sobre o que pode ir dentro do caixão, com o corpo.
A Servilusa quis seguir o seu próprio caminho e desafiou os fabricantes a fazer urnas ecológicas, em tudo semelhantes às que sempre foram utilizadas nas sepulturas.
O primeiro problema, segundo Paulo Carreira, foi eliminar os pregos e substituí-los por uma cola natural, à base de água e farinha. A seguir, era preciso encontrar um verniz não poluente, também à base de água, que desse o mesmo brilho de um produto sintético. Foi necessário um mês de testes para obter o resultado desejado.
As alças de metal, por onde se seguram os caixões, foram outro obstáculo a ultrapassar. A solução encontrada foram pegas amovíveis, que facilmente são retiradas antes de a urna descer à terra.
Para cremações, que representam cerca de quatro por cento dos 105 mil funerais realizados por ano em Portugal, foram adoptadas urnas biodegradáveis para as cinzas, a partir de modelos que já são comercializados em Espanha.
Também de Espanha veio uma urna para cinzas, feita em cartão reciclado, que traz terra e sementes de pinheiro. Esta inegavelmente pode ostentar um título verde: no local onde for enterrada, nasce uma árvore" (Ricardo Garcia - Público, 09/12/2006)
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