Neste ano, o grupo do projeto Piatam Mar tentará medir o fenômeno pela primeira vez. O provável é que a taxa de afundamento seja de alguns poucos milímetros por ano.
A área em questão tem literalmente dimensões amazônicas. A boca do rio, em extensão, mede 330 quilômetros, desde o cabo Norte (Amapá) até a ponta da Tijoca (Pará). No meio do caminho esta a ilha de Marajó, com seus nada modestos 40 mil quilômetros quadrados.
"O nível do mar nunca esteve tão alto nessa região", disse à Folha o geólogo Pedro Walfir Filho, coordenador do Lait - Laboratório de Análises de Imagens do Trópico Úmido da UFPA - Universidade Federal do Pará e do projeto Piatam MarMas, pelo menos nesse caso, ainda não é possível saber se essa elevação do mar está relacionada com o aumento médio da temperatura global - o que não está totalmente descartado.
O que deve estar ocorrendo na foz do Amazonas, rio que joga no Atlântico todos os anos 6,3 trilhões de metros cúbicos de água (16% de toda a descarga mundial) e 1,2 bilhão de toneladas de sedimento, é que a saída desse corpo d'água, já na plataforma continental, está ficando cada vez mais entulhada.
Com a elevação, o sedimento trazido dos Andes pelo Amazonas vai se depositando em maior quantidade logo depois da foz, porque é barrado pela coluna d'água maior, e acaba chegando em menor quantidade ao oceano aberto. Esse peso extra pode estar rebaixando a crosta terrestre na região.
Além disso, a foz do Amazonas está em uma zona de tectonismo (movimento natural da Terra que gera os terremotos). Isso, por si só, pode fazer com que aquela parte do Brasil vá entrando por baixo do Atlântico. "Há registros de sismos nesses locais. É famoso o terremoto que ocorreu em Belém em 1970", disse Walfir Filho.
Mesmo com toda essa dinâmica recente, o Amazonas continua cuspindo com vigor a lama que carrega. Os registros dos pesquisadores mostram que existe sedimento a mais de 200 quilômetros da costa. Esse material também é distribuído em todas as direções e fornece a base para os manguezais do Pará, do Amapá e do Maranhão.
O mar nos últimos 18 mil anos está 2 m acima de seu nível médio nesse período, segundo os levantamentos geológicos feitos por diversas equipes nos últimos anos.
Existe uma hipótese secundária para o afundamento da boca do Amazonas. Segundo o pesquisador paraense, tudo pode estar sendo ocasionado pelo grande confronto de forças aquáticas que ocorre no local. "Talvez a crosta não esteja exatamente afundando. Pode ser que apenas o mar é que esteja subindo", explica. A conseqüência mais imediata de tudo isso - não existe risco de Marajó desaparecer pelo menos nas próximas décadas por causa desse fenômeno - é que a navegação na foz do Amazonas poderá ficar mais complicada. Com mais lama, algumas área ficarão rasas demais e as embarcações poderão encalhar onde hoje esse risco não existe.
Para tentar mapear toda essa movimentação amazônica, os pesquisadores montaram uma verdadeira força-tarefa. Estão envolvidos no projeto cientistas do Pará, do Amapá e do Maranhão. "Serão usados quatro marégrafos (instrumentos que medem o nível do mar), três estações de georreferenciamento global (GPS) e 20 refletores, que vão ajudar nas análises por satélite", disse Walfir Filho.
Esses equipamentos de reflexão serão instalados em vários pontos, explica o pesquisador, inclusive no alto dos prédios de Belém e de Macapá. "O custo de projeto é de R$ 7 milhões. Serão feitas duas excursões científicas em 2007. Também serão coletados dados biológicos."
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