Muito tem sido especulado a respeito do Mercado dos Créditos de Carbono e as expectativas que estão sendo geradas para todo um mercado integrado por empresários, profissionais de consultoria e principalmente por prefeitos, governadores e gestores públicos que passaram a identificar nesses certificados uma espécie de “salvação da pátria”, que solucionariam todos os problemas dos seus lixões e ainda reforçariam os respectivos caixas com os futuros Créditos de Carbono gerados pelo biogás captados nos respectivos aterros sanitários.
E então, de forma crescente, começou uma espécie de “corrida do ouro”, insuflada principalmente por empresas e países da União Européia, que passaram a procurar avidamente por estes créditos, mas também a especular fortemente como se fossem mais um tipo de título ou papel do mercado financeiro e não um instrumento criado e desenvolvido como objetivo maior de viabilizar projetos auto-sustentáveis que possibilitem a redução das emissões dos gases geradores do efeito estufa e que sejam implementados em países em desenvolvimento. Este instrumento foi denominado de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
É importante frisar que este mercado é extremamente complexo, requer um alto nível de conhecimento técnico e vultosos investimentos financeiros. Os Projetos que originaram o Mercado de Carbono devem ser geridos por empresas e profissionais sérios, profundamente engajados em sua auto-sustentabilidade, com formação e expertise específica na gestão de resíduos sólidos. Atualmente existem até escritórios de advocacia oferecendo projetos de gestão de aterros.
É preciso enfatizar que a equação custos X investimentos X sustentabilidade tem pelo menos que fechar fora do vermelho. Os altíssimos investimentos que mandatoriamente serão implementados nos aterros sanitários, aliados a uma certa incerteza de que os Créditos de Carbono irão mesmo cobrir custos e ainda gerar lucros, podem acabar se tornando uma futura dor de cabeça para os gestores em geral, principalmente para os prefeitos.
Temos assistido à implementação de projetos que sequer têm um estudo de viabilidade estrutural e econômica confiável, isto é, vemos muitos especuladores de plantão e profissionais que andam pelo Brasil afora, prometendo lucros estratosféricos aos prefeitos tão ambiciosos quanto pouco informados.
O mercado de carbono parece prometer muitas perspectivas, sendo ainda muito novo e por isso mesmo, gerando muitas incertezas. Sua maturidade foi alcançada praticamente no final de 2005, com a solidificação do Protocolo de Quioto após a adesão da Rússia. Mesmo assim, tem atraido muitos interesses, geralmente de origem especulativa.
Empresas e governos, não somente no Brasil mas em todo mundo, tem provocado debates, trocas de informações, entrevistas, artigos e trabalhos acadêmicos.
A parte boa desta historia toda é que a comunidade científica e acadêmica tem dirigido boa parte do seu foco de interesses para as demandas por novas tecnologias que não somente gerem energias renováveis, mas principalmente não poluam o planeta ou destruam o meio ambiente.
Devemos discutir e democratizar a geração de todo um conhecimento voltado para o Mercado de Carbono, afinal, este envolve não somente especulações no mercado financeiro, mas também gestão de resíduos, políticas públicas, a atual situação de degradação dos lixões nos municípios brasileiros, além de programas de inclusão de catadores e a educação ambiental da população das cidades.
A necessidade gera a demanda e estas podem ser fatores de alavancagem e agregamento de novos valores culturais socioambientalmente mais corretos em empresas e nações inteiras, pois sabemos que se não mudarmos urgentemente nossos hábitos de consumo e as atuais tecnologias de geração de energia, poderá comprometer, em médio prazo a sobrevivência da humanidade neste planeta.
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