Resumo
O
controle do trânsito de alimentos em regiões de fronteira é fundamental para reduzir
os riscos de propagação de perigos microbiológicos e químicos. Desta forma, os
objetivos deste estudo foram: 1) Avaliar o perfil de brasileiros residentes em cidades
da fronteira Oeste do RS com Argentina ou Uruguai, quanto à prática de importação
de produtos de origem animal e determinar associações entre as características
da população e a aquisição destes produtos; 2) Avaliar a qualidade higiênico-sanitária,
por meio da contagem de micro-organismos indicadores e pesquisa e identificação
molecular de Salmonella spp., Listeria monocytogenes e Escherichia coli
O157:H7, vírus da hepatite A (HAV), hepatite E (HEV) e rotavírus (RV) em
produtos de origem animal in natura e processados comercializados em região de
fronteira internacional do RS, Brasil; e 3) Pesquisar resíduos de fármacos veterinários
(antimicrobianos e antiparasitários) em produtos de origem animal comercializados
em região de fronteira do RS. Para o estudo do perfil dos importadores, foi
elaborado um questionário o qual foi aplicado em seis cidades do RS (três que
fazem fronteira com Argentina e três com Uruguai). Para a avaliação higiênico-sanitária
foram analisadas 270 amostras de produtos de origem animal in natura (carne
bovina, suína, de frango e de caça) e processados (laticínios e carnes processadas),
sendo 150 adquiridos na Argentina e 120 no Uruguai; a pesquisa de vírus foi
realizada em 159 amostras (86 da Argentina e 73 do Uruguai). A pesquisa de
resíduos de fármacos veterinários foi realizada em 189 amostras (90 da Argentina
e 99 do Uruguai). Pelo questionário aplicado, obtiveram-se 744 respostas verificando-se
que parte da população avaliada importa ilegalmente produtos de origem animal,
tanto na fronteira Brasil-Argentina (65,17%) quanto Brasil-Uruguai (76,28%).
Nestas fronteiras, derivados do leite foram os principais productos importados,
seguido de carnes in natura e processadas. Quanto aos patógenos, observou-se a
presença de Salmonella spp. (4% dos produtos da
Argentina), L. monocytogenes (3% da Argentina; 16,66% do Uruguai), HAV (23,25%
da Argentina; 12,32% do Uruguai) e RV (36,04% da Argentina; 9,58% do Uruguai)
em produtos in natura e processados. Não foram detectadas
amostras contaminadas com E. coli O157:H7 e HEV. As altas médias das contagens
de mésofilos e enterobactérias evidenciaram condições higiênico-sanitárias
inadequadas durante a cadeia de produção e comercialização dos produtos.
Resíduos de fármacos veterinários foram detectados em 50 amostras (26,45%), com
28 apresentando resíduos de antimicrobianos (14,81%) e 22 de antiparasitários
(11,64%). Das 50 amostras positivas, 20 (15 da Argentina e cinco do Uruguai)
apresentaram Limite Máximo de Resíduo (LMR) acima dos parâmetros legais, correspondendo
a 10,58% do total das amostras analisadas. Os resultados demonstraram que a
prática de importação ilegal de produtos de origem animal é comum nas cidades
de fronteira do RS e que os produtos podem conter perigos biológicos (bactérias
e vírus) e químicos (residuos de fármacos veterinários). Desta forma, há
necessidade de uma maior ação dos órgãos de vigilância de fronteira
internacional, de modo a controlar a entrada de alimentos que possam veicular
perigos microbiológicos e químicos bem como de conscientização da população
fronteiriça de modo a esclarecer os riscos que a introdução de alimentos no
Brasil sem a devida fiscalização sanitária pode trazer para a saúde pública e
animal.
Palavras-chave: alimentos,
patógenos, resíduos de antimicrobianos, resíduos de antiparasitário